MURMÚRIOS DA BAIXA-MAR
17 julho, 2006
14 julho, 2006
NO PALCO DA VIDA
Estava apaixonado pela actriz principal. Tinha encontrado a mulher da sua vida.
A doçura da sua voz no palco, os seus sentimentos, quanta bondade, quanto amor…
Francisco estava optimista. Hoje depois do espectáculo ia finalmente falar-lhe.
Valeu-lhe um amigo que bem familiarizado com o mundo artístico, lhe arranjou um bilhete na plateia, quando a lotação estava esgotada havia já duas semanas. De igual modo, tinha conseguido que a actriz recebesse Francisco logo a seguir á representação, a pretexto de um autógrafo.
Francisco jovem com trinta e poucos anos, não cabia em si de emoção. Nada sabia dela, a não ser que, acidentalmente, foi ver a peça e ficou deslumbrado com a actriz. Tão pouco sabia que aquela figura de elegante senhora tinha mais vinte anos que ele.
Finalmente encontraram-se, e Francisco mal conseguia balbuciar as palavras com que lhe falou. Enquanto esperava que a actriz se vestisse para sair, Francisco não sabia mesmo como tinha arranjado coragem para a convidar para cear. Não tinha qualquer dúvida, ela também gostava dele.
Naquela noite, ele bem percebeu que ela representou apenas para si. As suas frases que ele tão bem conhecia, foram proferidas olhando na sua direcção. Ele um anónimo no meio de tanta gente, mas era para ele que ela olhava naquela noite, enquanto representava.
Linda saiu do camarim e avançou desajeitadamente na direcção de Francisco. Foi um tremendo choque. Em cena, o seu cabelo primorosamente penteado, dera agora lugar a um cabelo comprido avermelhado e muito mal tratado. O elegante vestido da peça, era agora um “trapo” garrido de mau gosto.
Francisco teve de reunir forças para prosseguir sem que a senhora percebesse a sua desilusão.
Durante a ceia Linda falava alto e a sua voz estridente nada tinha que ver com a voz melodiosa de Dona. O seu sorriso meigo, dera agora lugar a um esgar, que os beiços vincados de baton vermelho esborratado fora dos lábios sublinhavam, enquanto atirava com a cabeça para trás, em estridentes gargalhadas.
Francisco como cavalheiro que era, acompanhou Linda a casa. Na despedida, quando procurou beijar a mão da actriz, esta que nem reparou, selou a despedida com dois beijos que marcaram a face de Francisco como dois carimbos vermelhos.
No ar ficou a possibilidade de um futuro encontro, mas sem muita convicção de parte a parte.
Linda entrou em casa, tinha acabado a noite, o pano tinha caído, o espectáculo tinha terminado.
Sentada diante do espelho, tirou a cabeleira, removeu a maquilhagem e sem saber porquê uma lágrima rolou-lhe na face.
Naquela noite, cear com Francisco tinha sido a sua melhor representação. Trinta anos de carreira tinham ensinado á actriz, que os homens da sua vida não se apaixonavam por ela, mas por Dona, a figura da peça.
PENSAMENTO POSITIVO
Sou um privilegiado.
Tenho tudo o que preciso para ser milionário.
Só me falta o dinheiro.
12 julho, 2006
A TODOS
Sou uma pessoa afectiva. Faço amizades com facilidade e dedico-me naturalmente ás pessoas, pese embora o facto de muitas vezes isso me trazer amargos de boca.
O povo, na sua sabedoria simples costuma dizer que “Elogio em boca própria soa a vitupério” mas no presente caso não me estou a elogiar. Antes pretendo que me “conheçam” com o sentimento que julgo ter. Ainda que muitas vezes em meu prejuízo, ponho sempre em primeiro lugar o sentimento das outras pessoas. Não gosto de causar sofrimento, ainda que muitas vezes a minha boa disposição seja a capa dos meus sentimentos.
Todavia acautelem-se. Sou igualmente, um rematado brincalhão, tocando as raias da loucura, e adoro pregar partidas, susceptíveis de transmitir momentos de hilaridade e boa disposição a quem me rodeia. Então, se arranjar cumplicidade para uma boa brincadeira… nem imaginam do que sou capaz. A minha sogra, enquanto viveu, não só foi minha cúmplice em histórias “rocambolescas” como foi igualmente “vítima” de algumas.
Valia-nos um velho casarão, casa de família, com trinta quartos e cem anos de construção, cujo aspecto fantasmagórico, serviu de cenário para histórias de fantasmas e de extraterrestres que uma ou outra vez, juntaram à nossa porta, magotes de pessoas que até já viam OVNIS e coisas que nem a nós nos passavam pela cabeça. Dessa vez até a televisão esteve para aparecer não fora o caso da inconfidência de um amigo que pôs fim á brincadeira.
Mas agora não. Estou apenas triste com o desaparecimento do “blog” do nosso amigo Jorge Esteves. Gostava de ler os seus escritos e sinto a falta dos seus humorados comentários. Desaparecer assim, sem despedida…
Triste também fiquei, por ver um comentário anónimo no “blog” da nossa amiga Maria Pedrógão. Comentário esse que me pareceu mais uma ameaça velada, do que uma crítica ou opinião.
Nem ânimo tenho, para escrever.
Fiquem bem.
11 julho, 2006
ERA UMA VEZ UM MENINO
O conto tem por título “PORQUE CHORAM OS VELHOS ?”
Fiquem com este pedacinho…
09 julho, 2006
PROCURA-SE
Pois mas fazer amigos à distância tem o seu quê de … não sei explicar.
Não os conhecemos, mas habituamos a eles… depois, se desaparecem ficamos preocupados.
É o caso do nosso amigo Jorge Esteves, nem TEXTOS, nem PRETEXTOS, tudo fora do CONTEXTO.
Será que o nosso amigo foi passar as férias ás Bermudas!?... Querem lá ver que o triangulo estava a funcionar, e o homem sumiu-se com o Blog?
Ó Jorge, diz alguma coisa à gente!... Logo agora que eu estava a pensar ir ao Porto à tal tasquinha de arrais, na Ribeira, até estava a pensar levar a nossa amiga Maria P. para almoçar com a gente…
Eu compreendo; não ganhamos o campeonato, mas não é caso para te atirares da Ponte da Arrábida…
07 julho, 2006
O ESPÍRITO DA TERRA
La Manga - por cima do casario, ao fundo, o farol do Cabo de Palos
La Manga - Praia dos Pinheiros (Mar Menor)
Salvou-se este bocadinho
Que desperdício. Então aqui este espaço não dava perfeitamente para construir um prédio de quinze ou vinte andares?... Só pinheiros e mais pinheiros que nem há lugar para por os pés.
(aih, se eu fosse o "alcaide do ajuntamento")
* * * * *
Quando eu era criança e mais tarde já um jovem com 18 anos, tive o privilégio de conhecer lugares como a Costa de Caparica, São Martinho do Porto, o Luso e mais tarde, homem casado ou em vias disso, conheci São Pedro de Moel, Vidago e Pedras Salgadas.
Em todos estes lugares, se encontrava patente, não se via, mas sentia-se um ambiente especial, tradicional, que se foi criando através dos tempos e passado como testemunho de geração em geração e que na falta de melhor termo, eu resolvi chamar de, Espírito da Terra.
Dele faziam parte, não apenas o aroma do mar, das flores, dos campos, mas também a harmonia das construções na sua arquitectura cuidada e equilibrada nas proporções.
Do espírito da terra, faziam igualmente parte, as pessoas. Não apenas aquelas pessoas elegantes que frequentavam esses lugares durante a “Seson“, como era habito dizerem quando se referiam á época de veraneio.
Faziam parte desse espírito também, as pessoas da terra, a quem por costume já conhecíamos e tínhamos por amigos.
Não apenas os mais humildes, como o senhor Luís e a senhora Júlia, moleiros da azenha, a quem os meus pais visitavam regularmente, não só para se deliciarem com a água fresca da nascente, como para me mostrar como era moída a farinha do pão que eu comia na cidade.
De igual modo, também cumprimentávamos a senhora do correio, onde íamos levantar ou depositar as nossas cartas, por vezes até telefonar. Sim, naquele tempo não tínhamos tele-móveis.
Faziam parte deste ambiente, o senhor Adelino, porteiro do hotel, a Graça dos bolos e tantos outros. O Quim Barbeiro, o Chico Zé, este último um pobre diabo que sabendo ler e escrever, publicava numa lousa as noticias da aldeia, que pendurava na porta da barbearia do Quim. Dela constavam, as mortes, os aniversários os nascimentos e até os casamentos. (Agora o Besnico está mesmo comovido)
De igual modo, se cumprimentava o senhor Conselheiro, o senhor Doutor, formado em Coimbra e que era o médico das termas.
Quantas e quantas tardes de conversa com o senhor doutor… tinha sempre histórias engraçadas para contar, fruto de muitos anos como médico de aldeia, num tempo em que o médico não ganhava o suficiente, para pagar as contas da farmácia, dos medicamentos que gratuitamente fornecia aos seus doentes mais necessitados. Valiam-lhe as consultas na Casa do Povo e no verão, as que dava aos veraneantes mais abastados que vinham da cidade, para fazerem as suas curas termais.
Chamávamos-lhe o “João Semana” por analogia com a figura do médico, criada por Júlio Dinis no seu conto “As Pupilas do Senhor Reitor”.
Parece que o estou a ver; alto, magro, olhos azuis, cabelo branco e com aquele porte de cavalheiro e uma maneira especial de conversar e reflectir sobre os assuntos, característica dos velhos doutores de Coimbra.
Quantas e quantas vezes em pleno Inverno, noite alta, contava-nos, era chamado a assistir a um parto.
Nunca se recusou, tenho testemunhos disso. Metia-se no seu automóvel e quando a estrada acabava, lá estava alguém, com uma candeia, um burro ou uma mula, para acompanhar o Senhor Doutor, serra acima, por onde os caminhos cobertos de neve, já não vão. Por perto, ouviam-se os latidos dos lobos. Assim, tantas vezes ao longo da vida, lá chegava a um casebre, onde á luz de uma vela, trazia para a luz da vida uma criança ou fechava para sempre os olhos de um moribundo.
- Quanto devo Sr. Doutor?...
- Ora deixe lá isso… o que é preciso é que o rapaz vá ás sortes.
E dizendo isto, lá se ia embora, serra a baixo, não sem antes, discretamente sobre a mesa, escondida por baixo da receita, deixar uma nota de vinte escudos.
(quando não é possível repartir a riqueza, que se saiba ao menos, repartir as dificuldades)
Nesses lugares por onde andei, respirava-se um ambiente de família. Deixem que vos conte.
Não irei identificar pessoas nem apontar concretamente nenhum sítio em especial. Mas o que vos vou contar, teve por cenário todos os lugares que acima já referenciei.
Como o “conto” é longo, hoje deixo-vos apenas com este bocadinho.
Se gostarem, voltarei amanhã com “O ESPIRITO DA TERRA II
ESTOU VIVO
A quem interessar, informo que estou vivo. Apenas me ausentei por alguns dias.
Primeiro, foram aqueles dez dias de férias, bem passados que serviram para aliviar as tensões do dia a dia.
Depois foi o problema com o meu computador etc. etc.
MANGA DEL MAR MENOR
Finalmente, informo que desta vez vou mesmo de férias, não sem antes vos deixar o meu próximo “post” - O ESPÍRITO DA TERRA.
De qualquer modo, porque a idade não perdoa, estas férias não metem viagens por mar, pese embora o facto de estar a preparar um conto, que mete viagens de mar com termos náuticos, daqueles de procurar no dicionário e que vocês tanto gostam.
ATÈ AMANHÃ
- Sim... ainda te lembras como se escrevia à mão?... Uma máquina de escrever... pois!
- E as imagens?... compro uma tesoura... corto e colo, está bem... e para meter o som?...
- Pois... gravo em fita magnética e envio para o laboratório da Kodak na Suiça... são os melhores, fazem isso em pouco mais de um mês... está bem... Obrigado.
Ai é sempre bom ter amigos que sabem destas coisas!