11 julho, 2006

ERA UMA VEZ UM MENINO

Queridos amigos, vou deixar aqui um excerto de um conto que estou a escrever, não para os “blogs” mas para um livro que não sei se tenho a coragem de acabar, pois que a carga emocional das recordações é muita e o “escritor” é velho…
O conto tem por título “PORQUE CHORAM OS VELHOS ?”

Fiquem com este pedacinho…
Era uma vez um menino, um menino que tinha tudo, tudo o que qualquer criança poderia desejar, só que não era feliz.
Francisco, filho de pais modestos, gente honesta e de trabalho, cuja maior herança que lhe deixaram foi o amor de pais, boa formação moral e firmeza de carácter. Agora já velho, Francisco recordando o passado, costumava pensar para si mesmo, que a vida de seus pais como casal, fora a mais bela história de amor que alguma vez tivera a oportunidade de viver.
Por outro lado, Francisco era o principesinho, filho único de sete irmãs; um menino entre as bruxas como o seu pai costumava dizer quando agastado, por aquilo que considerava ser um excesso de cuidados em volta da criança, acrescentando:
- Isto não é educação que se dê a um rapaz, que Deus me perdoe, mas ainda fazem deste miúdo um verdadeiro maricas.
De igual modo, seu tio e padrinho, um abastado banqueiro, repetia vezes sem conta:
- Oh Manuel, temos que tirar este puto das mãos destas mulheres, dão-nos cabo do rapaz!
Mas Francisco, não era da qualidade de se estragar, e entre "bruxas", sedas e mimos, lá foi sobrevivendo e tornou-se um homem. Foi crescendo, foi para a escola e foi sempre ouvindo os projectos, que os maiores da família tinham traçado para o seu futuro.
Os "amigos de família", aqueles amigos do peito, que sempre nos rodeiam quando o dinheiro corre e que depois de repente desaparecem quando a fonte seca; já tratavam o Francisquinho por senhor engenheiro ainda o menino não tinha feito a 4ª Classe de Instrução Primária. Vulgar mesmo era referirem-se a ele perguntando sempre como estava o Morgado.
O Padrinho, gostava de afirmar em público falando com o compadre:
-Manuel, quando chegar a altura, o teu filho vai estudar para Inglaterra, sou eu quem paga os estudos, faço questão. Será no mínimo, advogado ou engenheiro. Quero que ele seja o meu sucessor no banco.
Assim com o futuro previamente assegurado, Francisco teria tudo o que se poderia desejar para ser feliz e um homem de sucesso. Só que, a vida dá muitas voltas, e Francisco, se por um lado não tinha vocação para maricas, também não tinha vocação para os estudos... ou talvez tivesse, os tempos é que eram outros e o ensino diferente.
Escolas, colégios, liceus, correu todos os que havia em Lisboa. As notas, numa escala de zero a vinte, tanto poderiam ser zero, como de dezoito, nas raras vezes que comparecia aos pontos. As chamadas orais, uma verdadeira desgraça, muito concorridas de público, não só para apreciarem o saber sólido, que realmente possuía, do pouco que sabia, mas principalmente para assistirem ás graçolas que dizia e que não raras vezes lhe valiam a expulsão da aula.
Adorado pela maioria dos professores, e odiado pelos outros a quem satirizava, Francisco vivia no purgatório, sustentado pelos anjos bons que o puxavam e flagelado pelos demónios que o odiavam.
Uma tónica era comum a todos os professores que falavam com seus pais, era um aluno de uma educação exemplar e como todos afirmavam, Francisco era o cábula mais inteligente que conheciam, e que pena aquele azougado ser assim.
Conta-se, e foi verdade, que uma vez no final de um exame, o presidente do júri depois de ter interrogado Francisco, perguntou-lhe:
- Oh rapaz, tu foste meu aluno?
Fui sim Senhor Doutor, respondeu Francisco; e diz-me, continuou o professor, eu alguma vez te prejudiquei? Não Senhor Doutor, respondeu Francisco.
O professor, pondo-se de pé e com ar solene acrescentou:
- Bem me parecia, eu nunca poderia ter prejudicado um aluno tão brilhante como o senhor; e deu por concluído o exame.
Lá atrás na assistência, a Titi chorava. Correu para o telefone e falou para a irmã dizendo - graças a Deus, o nosso Chiquinho passou, distinto, distinto... ao lado o Chiquinho disfarçando uma risada pensava - uma em dez, margem de insucesso, noventa por cento, o melhor é não pôr cá os pés amanhã e deixar o resto para Setembro.

8 Comments:

At 11 julho, 2006, Blogger Madalena said...

:-)

Viva é a sabedoria da vida! Dá-nos a coragem para fazermos aquilo que queremos! Para avançarmos sem medo...!

;))*

 
At 11 julho, 2006, Blogger Maria P. said...

Fico à espera do resto.
Beijoca.

 
At 11 julho, 2006, Blogger Besnico di Roma said...

Já tenho dois leitores
Que em nada são iguais
A Maria é uma querida
O Doutor trata dos mais…

O plural de mal é mais!?... Ihihih!

 
At 11 julho, 2006, Blogger £ou¢o Ðe £Î§ßoa said...

Sou um previligiado!!
Jantei...
Fumei...
Li...
E, encantei-me!!

Foi um bom principio de noite e devo-o a ti...

Um abraço, até outro instante!

 
At 12 julho, 2006, Blogger Nomyia said...

Um livro? Difícil? Coragem! Mas independentemente de ver a luz do dia ou não é uma forma de desabafo, para o ecran ou para o papel.*****

 
At 22 agosto, 2006, Blogger APC said...

Um homem tem tempo para ensinar a alguns; o seu livro poderá ensinar muitos...

 
At 28 agosto, 2006, Anonymous Anónimo said...

Projecção de toda uma vida?

 
At 02 outubro, 2006, Anonymous Anónimo said...

Isto sim, é um encanto de blog com posts que leio , releio e ...sorrio. Simplesmente adorei! E embora esteja longe de Portugal serei uma fiel leitora.
Quanto ao livro, se um HOMEM com esta capacidade de nos fazer sorrir não termina a sua obra, em quem nos vamos inspirar?

Faça o favor de ser feliz

Um abraço desde Beirut

Elsa

 

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