11 setembro, 2006

A QUEM INTERESSAR

Hoje foram abandonadas as buscas no mar.
O Comandante Besnico foi dado como desaparecido. O corpo ainda não deu à costa.

Todavia consta, que aqui na praia foi visto um louco, cuja descrição poderia corresponder à do comandante. Tinha um ferimento na cabeça, do qual sangrava e não deixava que se aproximassem dele.

Quando lhe perguntaram quem era e de onde vinha; simplesmente respondeu que não sabia.

Quando as autoridades chegaram para o identificar, tinha desaparecido.

Em carta deixada pelo comandante antes de partir, cabe-me a mim o dever, de a seu pedido, encerrar este “blog”.

O Imediato do n/v “Maria Pedrógão”
.
.
Visite “MEMÓRIAS DE UM AMNÉSICO”
http://memoriasdeumamnesico.blogspot.com/
Memórias que não consigo recordar, de um passado que não consigo esquecer…
.

07 setembro, 2006

A SETIMA ONDA ou A Loucura do Capitão


Sentado na mesa de cartas, Besnico ia pensando, não já do que para trás deixara em terra, mas da melhor manobra a executar para apanhar melhor vento e dar mais andamento ao navio.


Mandou o piloto confirmar a velocidade, onze nós, não tinha pressa. Não fora a tripulação e se o navio não chegasse a parte alguma, não lhe faria qualquer diferença.


O oficial de comunicações, abeirou-se dele e informou:
- Uma mensagem para si.


Era de um amigo, que entre outras coisas, o informava de que deveria ir ver o seu “blog”.

Besnico sorriu, quantas facilidades a tecnologia hoje permite… ligação à Internet em alto-mar…


Enfastiado, encostou a cadeira para trás e adormeceu a contemplar o pôr-do-sol no horizonte.


Era já noite alta quando acordou e lembrou-se da mensagem do amigo.


O timoneiro tinha saído de quarto e agora ao leme, á luz difusa da bitácula, estava um jovem que lhe confirmou o rumo, 230º.

Seguiam agora com melhor andamento numa, navegação mais estável e o navio adornado para bombordo por um vento de 25/30 nós que lhes entrava pelo través, embalava-os mar fora pela escuridão da noite.

No tombadilho apenas se ouvia o marulhar das águas contra o casco e a melodia do ranger do aparelho que jogava com o balanço do navio.


Para o Besnico a vibração do vento nos brandais e o tilintar das adriças, completavam a orquestra, como acordes de violoncelo.

Lá fora a visibilidade era nula, apenas em volta do barco, principalmente na esteira, uma leve fosforescência do plâncton das águas, que emprestava à espuma das ondas uma luminosidade branco azulada, como que se os espíritos daqueles que se perderam no mar, estivessem a acompanhar o navio.


Besnico, voltou para a cabine, depois de caçar um pouco mais a escota da mezena, abriu o computador e viu a imagem de uma rosa e apenas uma frase; as suas palavras para mim… como título – São rosas senhor


No passado, quantas vidas desfeitas, quantos enganos e desencontros por não ser possível, como hoje, ter a bordo comunicações via satélite.


Nervoso, precipitado, correu para a mesa de navegação, uma vista de olhos ao GPS e assinalou desajeitadamente na carta a posição do navio. Uma série de cálculos; não estavam longe, o sol iria nascer dentro de pouco tempo, esperaria o suficiente para não arriscar a tripulação, com uma manobra de panos á noite. Seguidamente informou o piloto:
- Dentro de 90 minutos ligar o motor e arrear panos.
- Mas comandante, a motor teremos um andamento mais lento!?...
- Depois comunico-lhe o novo rumo.


Besnico sabia, mas também sabia que não poderia navegar directamente contra o vento, que agora estava a entrar pela poupa. Precisava pelo menos de um ângulo superior a 35º, o que o obrigaria a fazer um demorado bordo para o meio do Atlântico subindo em latitude e depois, traçar novo rumo e fazer novo bordo seguindo numa lenta navegação de largo, para atingir a costa no ponto que desejava.


Navios deste tipo, são lentos. Navegam bem à poupa mas tem dificuldade em bolinar, ao contrário dos modernos veleiros de recreio.
A motor, são igualmente lentos e a configuração do casco, não só permite grandes abatimentos, como em determinadas circunstâncias se tornam extremamente incómodos.


Na coberta, fazia-se já sentir o movimento dos tripulantes na manobra de arrear panos.


Alguém gritou para o timoneiro - orça, orça!... a bombordo outra ordem – folga… folga a escota do estai, caraças… mais… dá toda!


O navio entrara na linha de vento, o barulho dos grossos panos a bater e o chicotear dos cabos, emprestava ao ambiente, para quem não estivesse acostumado, um aspecto aterrador.


Novamente alguém advertiu, cuidado atenção á cambadela!... no exacto momento em que a retranca se deslocou mas sem violência, fora apenas o balanço do navio; o último pano estava arreado.


Trim-tim, na casa da máquina o telégrafo deu sinal – Atenção à Máquina. Pouco depois, trim-tim-tim – Meia Força à Vante. O navio que quase parara estava agora com seguimento.


Nova ordem foi dada ao timoneiro:
- Volta de 180º por Estibordo.


O navio começou lentamente a rodar e algum tempo depois nova ordem:
- Pare a volta – governe a 035º.


Navegando de “árvore seca”, apoiado apenas no motor, não tardou que o navio se erguesse na proa para depois cair pesadamente no mar com estrondo, deslizando onda abaixo para se enfiar de proa na outra onda que se levantava na sua frente. Alguns intermináveis segundos, e eis que volta a subir, com toneladas de água a varrer o convés de proa à popa, saindo violentamente pelas portas-de-mar como que fossem longas barbas brancas.


No tombadilho, apanhados de surpresa, dois tripulantes que não se recolheram a tempo, agarrados aos brandais para não serem arrastados, pensavam que o comandante tinha enlouquecido.


Obstinadamente, durante mais de uma hora, seguiram nesta incómoda navegação.


De pé, olhando para fora, alheado de tudo e em silêncio, estava o comandante.


Por fim, como que acordando para a realidade, deu-se conta que o imediato olhava para ele com ar apreensivo.


Com um assentimento de cabeça, sem uma palavra, poisou-lhe amigavelmente a mão no ombro.


A velocidade tinha baixado, não conseguiam mais do que uns modestos 8/9 nós.


Besnico, não sabia o que lhe tinha passado pela cabeça para determinar uma manobra assim; e o mar até que não estava mau?!... onda de cerca de 3 ou 5 metros, nada mais. Um verdadeiro mar de senhoras.


O Imediato, como que lhe tivesse adivinhado o pensamento, comentou:
- Ai as mulheres… as mulheres são o diabo!


Besnico, assumindo uma posição de comando, retorquiu:
- Imediato, assuma o comando e efectue a manobra. Vou descansar um pouco.


Deitado no seu beliche, Besnico sentiu que o navio começava a rodar e pouco depois sentiu que tinha sido reduzida a potência do motor. Pela inclinação percebeu que tinham sido já içados os panos. O mesmo mar, a mesma onda, apenas uma mudança na atitude do navio e tudo voltou à calma. Como que o mar tivesse amansado. Não compreendia o que lhe tinha passado pela cabeça?!...


O n/v “Maria Pedrógão” sulcava agora tranquilamente as águas, a uma velocidade de 13 nós, cortando transversalmente as ondas, apoiado no motor, ao qual se juntava a ajuda e o equilíbrio do estai e da mezena.


No dia seguinte, tinham subido em Latitude o suficiente para mudar de bordo. Traçado o novo rumo, apenas uma precaução:
- Imediato, ponha alguém com atenção ao radar, vamos atravessar uma zona de tráfego marítimo intenso. Quero dois vigias á proa durante a noite; atenção ás embarcações miúdas de pesca.

O dia amanheceu claro, o Comandante almoçou com a tripulação, depois junto á costa o navio imobilizou-se, ficando a pairar.


Besnico chamou o Imediato:
- Mande arrear um escaler com oito remadores. Vou desembarcar.
- Comandante o escaler tem motor de 60 c/v!?...
- Oito remadores!... vou a terra, a rebentação está forte, se esse velho motor se engasgar, como é?...


Para além disso, os motores tem uma potência limitada, que quando atingida mais não dá, é o limite. Os remadores são um acréscimo; aprendi com um velho Lobo do Mar, que o limite da capacidade humana é a vontade, o querer, e o limite ainda não foi atingido. Por isso acredito que esses oito mancebos, poderão valer mais do que um limitado motor de 60 cv.


Fazendo a saudação, Besnico acrescentou:
-Imediato, o navio é seu, vou desembarcar, assuma o comando.


O comandante desceu pela escada de quebra-costas, saltou para o escaler e pegando no pau de croque afastou do navio a pequena embarcação.


Vamos desembarcar na praia, inquiriu o piloto?... Não, apenas Eu vou desembarcar, respondeu o comandante.


Desembarcarei a cerca de cento e cinquenta metros da praia, antes de entrar na rebentação, na zona em que as ondas se começam a formar, governe paralelamente á costa, para eu sair.


Mas comandante, passa já da segunda hora de vazante, quando a corrente começa a ter mais intensidade. Não se vai atirar!?... perguntou atónito o piloto.


- Esse problema é meu; o seu, é regressar com estes homens em segurança ao navio, não entre na zona de rebentação. Entendeu?... é uma ordem!


Dizendo isto, tirou a pesada camisola, descalçou os sapatos e entregou o boné ao piloto dizendo:
- Entregar-mo-á mais tarde. Assuma o comando da embarcação.


Em silêncio, os remadores levantaram os remos e Besnico saltou afastando-se em vigorosas braçadas.

O sol escondia-se já no horizonte, aproveitou uma onda que se estava a formar, para com ela tentar alcançar a praia.


Arrastado pela corrente, estava um pouco mais para sul do que pretendia. Não iria sair na areia, mas um pouco mais abaixo, na zona das rochas; tinha consciência disso.


A onda elevou-se, subiu, subiu, até perder a base de sustentação, quebrando violentamente.


Besnico viu-se envolvido por um turbilhão de água; raspou pelo fundo bateu nas pedras e por fim surgiu á superfície aliviado por poder voltar a respirar.


Estava mais longe, do que quando começara. A ressaca da onda tinha-o atirado de novo para o mar.


Não perdeu o alento, apenas mais umas braçadas e estaria a salvo.


Nova onda atirou-o de encontro as pedras e uma poderosa força arrastava-o para o fundo.


Olhando para cima, podia ver faixas de luz difusa que desciam, convergindo na sua direcção… descontraiu-se, respirou fundo… e sorrio.


Na superfície da água podia ver a Casa de Maio; no jardim, Maria cuidava das suas rosas… Rosas de Maio, pensou.


Estava tranquilo; já nada lhe importava… aliás não tinha, nunca teve importância alguma. Porque no final, tudo não passava de uma romântica história, para “postar” num blog…

05 setembro, 2006

São rosas, Senhor...

...as suas palavras para mim!


Maria P.

Post, gentilmente publicado por Maria Pedrógão de “Casa de Maio”

04 setembro, 2006

CARTA DO ALTO-MAR

Tomei a decisão certa.

Nesta hora em que me lês, já estarei em alto-mar, a caminho do Brasil.

Para trás ficaram os sonhos que não cheguei a sonhar; ficaram as esperanças de baías e enseadas de águas tranquilas, onde acreditei poder lançar ferro, prender amarras e esperar ser acolhido.

Para trás ficou a paisagem e a brisa tranquila que eu poderia respirar das janelas de uma certa casa que em Maio era de esperança… A CASA DE MAIO.

Ao longe, no horizonte, já nem distingo a tua praia, tão pouco distingo já os pontos conspícuos da costa; o farol do Cabo da Roca, a Serra de Sintra.

Esfumando-se na bruma; apenas a imagem daquela cujo nome significa que vem do mar… e o apelido recorda uma das mais bonitas praias da nossa costa, Pedrógão… Maria Pedrógão.

O que a maré traz, a maré leva…
Fica bem.

01 setembro, 2006

CRACAS e outras coisas do mar.

Nome comum para uns animais marinhos, sésseis da classe das cirripédias. (família das ostras e dos mexilhões)

Estes seres marinhos, fixam-se nas rochas e nos seres vivos, como as baleias, e no casco dos barcos, onde causam alguns estragos.

Tempos a tempos, torna-se necessário limpar o casco dos barcos, (obras vivas) pois que a proliferação destes seres, não só desgasta as superfícies onde se agarram, como em quantidade tiram andamento ao barco.

Mas não é só no mar; em terra marinheiro que não se cuide, corre o risco de ser apanhado e não apenas nas obras vivas, nas também nas obras mortas até ficar completamente consumidinho por elas.

Ahh!... mas é tão bom!... Quem não gosta de percebes que são da mesma família…

Eu disse percebes, daqueles de comer… não perguntei se percebes, daqueles de entender. Pronto, não sei explicar melhor... tenho as minhas limitações.

Nota
Obras Mortas – Termo náutico que significa, trabalhos de reparação ou restauro no navio, feitos acima da linha de água.
Obras Vivas – Termo náutico que significa, trabalhos de reparação ou restauro no navio, feitos abaixo da linha de água.

Será que é preciso explicar tudo?!... Na volta tenho que explicar o que é um marinheiro, não vão vocês pensar que é o nome dado aos habitantes da Marinha Grande.

Para a próxima vamos falar de nós. NÃO é de NÓS da gente… é dos outros, (não, não vamos falar da vida dos outros) nós de atar e desatar… a chamada Arte de Marinheiro.

Foi este texto que enfureceu a nossa “blogista” Maria Pedrógão, da CASA DE MAIO, e eu nem sei bem porquê!?...
Visitem a CASA DE MAIO, leiam nossos comentários e digam lá se eu fiz alguma coisa que mereça que aquela “cigana” me trate assim e me tenha feito um bruxedo no meu blog, ao qual não tive acesso durante todo o fim de semana. (até a palavra passe ela mudou)


“DIREITOS CONSUETUDINÀRIOS” ou Cabelos Brancos e Pasteis de Nata

Contou-me uma amiga esta história que eu acho uma delícia.

No tempo que em Portugal, mesmo as grandes cidades, não eram mais do que uma aldeia maior e o trânsito automóvel diminuto, criaram-se alguns hábitos de condução “licenciosos” que não envolvendo quaisquer riscos, se aceitavam como prática corrente.

Foi assim que, um dia, um automobilista idoso, circulou como diariamente fez durante quarenta anos, por uma rua direito a casa.

Tudo seria normal, não fora o caso de alguns dias antes, por razões de reordenamento de trânsito, a Câmara ter mandado colocar um sinal, passando a rua a ter apenas um sentido único e o nosso velhote estar a circular em sentido contrário.

Interceptado pela polícia que o advertiu, fazendo referência ao novo sinal, o idoso condutor, respondeu tranquilamente com um sorriso ingénuo:

-Ora senhor guarda, isso é para os novos!…

O Besnico lembrou-se disto, porque pelas mesmas razões, a semana passada fez rigorosamente a mesma coisa em S. Pedro de Moel, onde durante o verão o trânsito à praça está condicionado e é apenas para moradores.

Um jovem e educado polícia, mandou-me parar, perguntou-me se eu era morador ao que respondi, que não.

O Polícia, fez referencia à restrição de trânsito e eu pedi desculpa, dizendo que não tinha reparado, pois que normalmente só frequento aquele lugar durante o Inverno…

Sorridente o jovem polícia, apenas teve o seguinte comentário:

- Pois, mas estamos em Agosto… Pode seguir e tenha um bom dia.

Free Web Counter
Discount Shopping Store