29 maio, 2006

LINDAS DE MORRER

Gosto deste escrito, tirei-o do meu outro blog, não gosto nada desta palavra, blog !?...
Se ainda não tinham lido, podem ler agora, se já tinham lido, não leiam mais. Mas eu gosto dele e fica aqui. É o meu tributo a uma das obras mais belas da natureza, Elas, as mulheres.
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Não há nada mais belo e reconfortante para o meu espírito, do que o encanto de uma “Senhora Maior”, da minha idade, mais coisa menos coisa.

Nestas idades maduras, mais do que o sexo é o encanto, a sedução, a promessa que não passa disso mesmo. O belo, a suavidade elegante sem exuberâncias, o saber, a insinuação do tudo e do nada, o mistério… talvez por isso eu gostei tanto do filme “Perfume de Mulher”.

São lindas as meninas da minha idade – é vê-las na baixa de Lisboa, na pastelaria Versalhes, na Foz no Porto, no Bambi ou no Central em S. Pedro de Moel, na pastelaria Garrett no Estoril. Em todos os sítios que perfumam e alegram com a sua passagem.

São lindas; seguras de si, altivas sem arrogância. Naturais sem serem simplórias, com um quanto baste de vaidade, nem demais nem de menos, apenas a medida certa, o necessário e suficiente.

Elegantes, discretas… e os cabelos?!... Verdadeiras obras de arte, bem cuidados, bem penteados, algumas vezes propositadamente despenteados, apenas a fazer de conta, o que lhes empresta um ar amalucado, terrivelmente sedutor, um toque de desalinho que apenas aumenta o encanto.

São lindas as meninas da minha idade.

Deslocam-se, mas não andam, deslizam, sem tocar o chão.

Não falam, apenas murmuram poemas de marés e flores.

Olham sem olhar, e quando reparam em nós, reparam sem reparar.
Por vezes nos seus lábios formam-se sorrisos, sem chegarem a sorrir, apenas o suficiente para que adivinhemos que também podem sorrir.

Os seus olhos, enviam-nos mensagens, sem nos olhar… nada demais, apenas para sentirmos que também podem amar.

São lindas as meninas da minha idade.

Se consentem que percebamos que reparam em nós... que emoção, enche-nos o ego, parecemos colegiais:
- Ela reparou em mim!... é agradável, reconfortante, sentir que apesar de sermos uns “rapazolas mais antigos”, por uma ou outra vez, ainda despertamos a atenção de uma menina da nossa escola. É então que se renovam os instintos, a caça e o caçador. Quem é quem?!... não interessa, ninguém quer um troféu é apenas um jogo; o jogo da sedução.

Mais importante do que o sexo, é o jogo da sedução. O sexo é apenas o arrumar das cartas no final da partida.

Quantas vezes nalgumas julgamos reconhecer alguém. Quantas vezes como adolescentes, com o coração a bater, pensamos ter reconhecido esta ou aquela. Quantas vezes porém dizemos para nós próprios:
- Não pode ser, com aquela idade só se for filha…

São elas as meninas da minha idade que mantêm um homem vivo.
São lindas as meninas do meu tempo, são lindas as meninas da minha escola. Adoro-vos.
Obrigado por serem como são.

Passei-me. Isto não é coisa que um homem de respeito escreva. Que vergonha.

11 maio, 2006

AUTO-RETRATO

Conta minha mãe que quando eu nasci, pelas três horas da manhã, já naquela altura tinha a mania das noitadas, a enfermeira mostrou-me à família e a minha mãe achou-me terrivelmente feio. Todavia, umas amigas de família, não se cansavam de repetir – Ester, não digas isso o menino é lindo, lindo.

Talvez que minha mãe, com a sua sensibilidade de mulher e mãe, não estivesse a ver a beleza física da criança, mas sim a fealdade moral do monstro que acabava de gerar. Pobre mãe... tenho pena de todos aqueles que me conheceram, tenho o fatal condão de destruir tudo aquilo em que toco, tudo aquilo que amo.

Uns anos mais tarde fui a Madrid visitar a avó de um amigo meu, uma dessas que 26 anos antes terá dito que eu era lindo. Ao chegar a casa, a idosa senhora, cega pela diabetes, pediu para que me aproxima-se, assim fiz e ajoelhei-me a seus pés. Demoradamente com as mãos, tacteou os meus cabelos, percorreu o meu rosto e deteve-se afagando as minhas barbas. Depois soltou esta exclamação:

- Meu Deus… parece um cão!

04 maio, 2006

O PODER DO ZIPPO ou Histórias de Marinheiros

Os rapazes da minha idade, todos eles conhecem o isqueiro Zippo. Caixa de aço, uma mecha, uma pedra e gasolina - fabrico Americano e entre nós, vulgarmente chamado o “Ronson da Picada”.


Este objecto basicamente utilizado para acender cigarros e não se apagar com o vento, foi bem mais do que isso, uma verdadeira “bomba incendiária”. Em que alguns modelos, escondiam uma pequena câmara fotográfica.

Recentemente estão de novo a lançar no mercado este modelo, mas já equipado com câmaras digitais; modernices…


Nas viagens por mar, que fazemos no veleiro do meu cunhado, com amigos e família, sim que as nossas mulheres também alinham nisto… Tem muito medo mas pouca vergonha. Quando o mar está mau protestam; como se nós tivéssemos culpa disso. Mas mal saíram de uma, as desavergonhadas, já estão a combinar a próxima viagem. Quando as coisas se complicam, regressam de avião e os lacaios que tragam o barco – afinal os marinheiros são eles… bonito!


Bem, mas não era nada isto que eu vos queria contar. O que quero contar é o meu poder com o isqueiro Zippo.


Eu e o meu cunhado, somos dois amigos inseparáveis - sim porque uma desgraça nunca vem só, a minha estava em promoção, trouxe as irmãs e os cunhados. Também veio a sogra, mas essa sim, uma santa senhora. Não é para me gabar, mas ela também teve sorte com os genros que lhe calharam e se as coisas corriam mal, ela vingava-se.

Fazia bolinhos de bacalhau, que eu adoro, só que os meus fazia-os com algodão em rama e este parvo, de início, passava o tempo todo a mastigar e não conseguia engolir. Isto já para não falar das “sopinhas” que me fazia. Eu detesto sopa. Claro que eu retribuía com outras “mimosidades” e assim, entre afectos e traquinices, vivemos uma vida toda em completa harmonia e profunda amizade.


Mas voltando ao meu cunhado e ao meu poder com o isqueiro Zippo, facilmente se compreende que dois “galos na mesma capoeira” que é como quem diz, dois comandantes no mesmo navio, só pode dar discussão.

As nossas mulheres chamam-nos os dois marretas. Ora porque um entende que o vento está muito forte e é melhor rizar pano e o outro acha que não; ou porque o outro entende que deve rumar mais não sei quantas horas naquela direcção para apanhar melhor vento e o outro acha que o tempo que se vai perder nesta manobra não virá a compensar com o que se ganha se mantivermos o rumo, ainda que em andamento menos rápido, etc. etc. etc. já para não falar, das argumentações técnicas sobre a exactidão dos cálculos náuticos de cada um.

Neste particular a introdução do GPS veio tirar a graça toda às discussões, não tarda que consideremos a possibilidade do regresso ao velho sestante ou ao astrolábio.


Nestas discussões até a terminologia náutica muda, para gáudio dos nossos “passageiros”. Coisas tão simples como uma roda de leme, podem mudar de nome e dar origem a uma expressão como esta:
- Larga essa merda, ou não sabes o que vais a fazer?…


Sem falsas modéstias, ambos estamos bem preparados para aquilo que estamos a fazer, mas estas picardias fazem parte do divertimento, muitas vezes propositadamente levadas ao exagero para divertir as senhoras.

Reconheço todavia ao meu cunhado, mais prática e um espírito de marinheiro superior ao meu, (mas só um pouquinho mais - nada de abusos) na realidade sempre fui mais piloto de aviões do que de barcos.

Mas é na hora de acender o cigarro que eu brilho.


Nessa hora ele rende-me homenagens de comandante. Nessa hora eu tenho o poder. O poder do Zippo.


Quando o seu miserável isqueirinho a gás não funciona, ou se apaga com o vento, ihh ihh ihh é a minha vingança.


Começa por remexer nos bolsos. Depois... o isqueiro não acende e eu finjo que não percebo.

No escuro da noite ele não pode ver o meu sorriso perverso; e digo para comigo - tás lixado, se queres fumar vais ter que ir lá abaixo procurar fósforos, mas vais ter que me pedir para te substituir, que com o mar que está o piloto automático não aguenta o barco.


Pouco tempo depois ele olha para mim, e eu faço de conta que não percebo. Então, ele pergunta se eu quero fumar e eu respondo com outra pergunta:


- Tens os cigarros molhados? Apetece-me gritar VINGANÇA.


Não, responde ele, a merda do isqueiro não acende.


Então, explorando ao máximo aquele momento, meto um cigarro na boca, acendo o meu Zippo, puxo-lhe a patilha para trás para a tampa não se fechar e atiro-lhe o Zippo aceso, que ele apanha no ar.

Vencido, acende o cigarro, fecha a tampa e devolve-me isqueiro pelo mesmo processo, dizendo:


- Estas merdas são boas… substitui-me ao leme que eu vou lá abaixo fazer café. Também queres um?


03 maio, 2006

TRAQUINICES ou Conversas e Pasteis de Nata

Este fim-de-semana fui lá.



Estava sozinho, como a maior parte das vezes e resolvi lá ir. Não sei bem porquê mas fui.
Fui na esperança de a ver, ainda que a uma distância prudente, para evitar complicações.
Ao que eu cheguei… estou a ficar maluco e eu que me julgava uma pessoa decente. Eu, que nem aos quinze anos ia esperar as miúdas à saída do liceu.

Sentei-me na esplanada dum café, em local bem visível, naqueles sítios agradáveis, bem frequentados, que todos os meios pequenos tem, para esconder quem quer ser encontrado. O chamado “picadeiro”.

No pensamento a ideia louca de a encontrar… e se a encontra-se como seria? … Provavelmente fugia, saia discretamente para evitar o escândalo. Sim, tanto quanto me lembro a “gata” arranha, ainda será assim?... ou será que a idade já colocou mais bom senso naquela cabeça?

Bom senso… que digo eu? … bom senso seria mesmo eu não estar ali.

Mas porquê esta fixação em alguém que há mais de 35 anos correu comigo, da maneira mais brutal e desapiedada, sem uma razão aparente, sem direito a uma explicação. Um ponto final abrupto numa história de amor onde tudo era perfeito, demasiado perfeito para ser real.
Se na altura tivesse aparecido outro cabeludo na história, ainda compreendia, mas durante alguns anos não havia outro nesta história?!... Nem outra, entenda-se.

Que ela era louca, eu sabia. Mas era essa loucura que a tornava tão atraente.
Ainda me recordo da primeira vez que nos encontramos e muito a medo, sim que nessa altura havia nesta história uma outra e um outro; sem compromisso é certo, mas igualmente dignos de respeito. Fomos lanchar á Versalhes, na Av. da República em Lisboa. Que emoção, ela estava linda, ela ainda é linda, a minha “provinciana” sofisticada, elegante, de maneiras delicadas (quando não arranha), uma menina.

Mas que estou eu aqui a fazer!? E se ela aparecer?... se ela me falar, mal ou bem… o que digo o que faço!? … Meu Deus, fujo, escondo-me?... Se ela me trata mal é um escândalo, na frente destas pessoas que nos conhecem. Se ela me fala bem, ainda é pior, terei depois forças para partir?... Mas sei que não posso ficar, não é licito, não deve, nem pode ser assim.
Parvo, estúpido, estás a criar uma situação perfeitamente idiota.
Mas o tempo passava e nada disto aconteceu.

Na mesa ao lado cumprimentei um casal que vagamente conheço dali, pouco depois troquei comentários com mais duas ou três senhoras que se juntaram ao casal, naquela amena tarde.

Talvez seja isto que me faz andar como uma alma penada por aquele sítio. As amenas e tranquilas cavaqueiras de fim de tarde, falando de tudo e de nada, futilidades e comentários sobre os pasteis de nata, conversas despretensiosas, sem que cada qual tente impingir aos outros a importância dos seus profundos conhecimentos e do seu alto valor social ou do relevo da sua pessoa no tecido politico e governamental da nação. Sabendo eu, porque sei, que todavia um ou outro dos que por ali aparecem, foram ou ainda são, parte do verdadeiro sustentáculo da própria nação.

Gosto de ali estar, com esta gente boa e despretensiosa, que não franze o sobrolho com agressividade quando fala, e mesmo quando em desacordo, intercala nas palavras um afável sorriso… já há tanto tempo que não via um sorriso quando alguém falava; natural, espontâneo. Já há muito tempo que tinha perdido o sabor e a sonoridade das palavras tranquilas, sem pressas, sem atropelos, como se tivéssemos todo o tempo do mundo e o nosso mundo e o nosso tempo fossem apenas e exclusivamente para dedicar aos amigos e conhecidos nestas tertúlias de fim de tarde em S. Pedro de Moel.

Ela não veio, o sol desceu no horizonte e até a despedida foi suave tranquila, como se cada qual quisesse demonstrar que tinha pena de partir. No ar, porque não me conheciam bem, ficou o discreto, mas sincero convite, de que seria bem vindo no próximo fim de semana.

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