TRAQUINICES ou Conversas e Pasteis de Nata
Este fim-de-semana fui lá.
Estava sozinho, como a maior parte das vezes e resolvi lá ir. Não sei bem porquê mas fui.
Fui na esperança de a ver, ainda que a uma distância prudente, para evitar complicações.
Ao que eu cheguei… estou a ficar maluco e eu que me julgava uma pessoa decente. Eu, que nem aos quinze anos ia esperar as miúdas à saída do liceu.
Sentei-me na esplanada dum café, em local bem visível, naqueles sítios agradáveis, bem frequentados, que todos os meios pequenos tem, para esconder quem quer ser encontrado. O chamado “picadeiro”.
No pensamento a ideia louca de a encontrar… e se a encontra-se como seria? … Provavelmente fugia, saia discretamente para evitar o escândalo. Sim, tanto quanto me lembro a “gata” arranha, ainda será assim?... ou será que a idade já colocou mais bom senso naquela cabeça?
Bom senso… que digo eu? … bom senso seria mesmo eu não estar ali.
Mas porquê esta fixação em alguém que há mais de 35 anos correu comigo, da maneira mais brutal e desapiedada, sem uma razão aparente, sem direito a uma explicação. Um ponto final abrupto numa história de amor onde tudo era perfeito, demasiado perfeito para ser real.
Se na altura tivesse aparecido outro cabeludo na história, ainda compreendia, mas durante alguns anos não havia outro nesta história?!... Nem outra, entenda-se.
Que ela era louca, eu sabia. Mas era essa loucura que a tornava tão atraente.
Ainda me recordo da primeira vez que nos encontramos e muito a medo, sim que nessa altura havia nesta história uma outra e um outro; sem compromisso é certo, mas igualmente dignos de respeito. Fomos lanchar á Versalhes, na Av. da República em Lisboa. Que emoção, ela estava linda, ela ainda é linda, a minha “provinciana” sofisticada, elegante, de maneiras delicadas (quando não arranha), uma menina.
Mas que estou eu aqui a fazer!? E se ela aparecer?... se ela me falar, mal ou bem… o que digo o que faço!? … Meu Deus, fujo, escondo-me?... Se ela me trata mal é um escândalo, na frente destas pessoas que nos conhecem. Se ela me fala bem, ainda é pior, terei depois forças para partir?... Mas sei que não posso ficar, não é licito, não deve, nem pode ser assim.
Parvo, estúpido, estás a criar uma situação perfeitamente idiota.
Mas o tempo passava e nada disto aconteceu.
Na mesa ao lado cumprimentei um casal que vagamente conheço dali, pouco depois troquei comentários com mais duas ou três senhoras que se juntaram ao casal, naquela amena tarde.
Talvez seja isto que me faz andar como uma alma penada por aquele sítio. As amenas e tranquilas cavaqueiras de fim de tarde, falando de tudo e de nada, futilidades e comentários sobre os pasteis de nata, conversas despretensiosas, sem que cada qual tente impingir aos outros a importância dos seus profundos conhecimentos e do seu alto valor social ou do relevo da sua pessoa no tecido politico e governamental da nação. Sabendo eu, porque sei, que todavia um ou outro dos que por ali aparecem, foram ou ainda são, parte do verdadeiro sustentáculo da própria nação.
Gosto de ali estar, com esta gente boa e despretensiosa, que não franze o sobrolho com agressividade quando fala, e mesmo quando em desacordo, intercala nas palavras um afável sorriso… já há tanto tempo que não via um sorriso quando alguém falava; natural, espontâneo. Já há muito tempo que tinha perdido o sabor e a sonoridade das palavras tranquilas, sem pressas, sem atropelos, como se tivéssemos todo o tempo do mundo e o nosso mundo e o nosso tempo fossem apenas e exclusivamente para dedicar aos amigos e conhecidos nestas tertúlias de fim de tarde em S. Pedro de Moel.
Ela não veio, o sol desceu no horizonte e até a despedida foi suave tranquila, como se cada qual quisesse demonstrar que tinha pena de partir. No ar, porque não me conheciam bem, ficou o discreto, mas sincero convite, de que seria bem vindo no próximo fim de semana.
3 Comments:
Bem... não sou a única...
Eu tenho palavras... Obrigada pela visita. Gostei da contribuição. E gostei do que li aqui. *****
Gostei do blog onde vim parar; da genuinidade, da ressonância vital :-)
Li do fim até este post e fixei-me nele.
Porquê?...
Ah, se eu contasse o porquê!...
...
:-)
Um abraço!
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